Cooperativa oficina de tecelagem de Mértola
Lã cardada pronta a fiar e já no fuso
Tear com a teia montada e alforge de lã com "pés de galinha" bordados
A nossa mais recente ida a Mértola - por conta de uma cada vez mais deliciosa Rota dos Aromas, da qual em breve daremos mais notícia - trouxe-nos uma agradável surpresa. Fomos desafiadas a elaborar uma estratégia de dinamização para a Cooperativa Oficina de Tecelagem de Mértola. Esta Cooperativa data dos anos 70, quando Mértola enveredou pelo rumo que ainda hoje a caracteriza. A par dos núcleos museológicos, a tecelagem é o mais carismático projecto destes tempos, uma espécie de jóia da coroa, agora ameaçada. Nesta cooperativa se produzem as tradicionais mantas de lã alentejanas. O material exclusivamente utilizado é lã virgem, preferencialmente proveniente de tosquia manual (já que a tosquia mecânica queima parte da lã devido ao aquecimento da máquina). Esta lã percorre depois um percurso inimaginavelmente moroso até chegar ao tear. Como gentilmente nos explicaram D. Adélia e as duas D. Helena, depois de obtido o velo (a lã tal como sai da ovelha), ele é levado para o rio para ser limpo. É lavado em cestas colocadas dentro de panelões, com água previamente aquecida mas que não pode ferver. Enxaguado em água fria corrente, coloca-se depois ao sol para secar. A lã é então batida com uma vara, para "abrir". Segue-se uma operação manual de limpeza, para retirar todas as impurezas. Para que ganhe "fio" (elasticidade), acrescenta-se uns pingos de azeite antes de se proceder à cardação. Uma vez cardada, a lã está pronta para ir à roda de fiar, onde as mãos experientes da D. Vitorina conseguem obter todo o tipo de fio necessário para os diferentes trabalhos. Feita a meada, num instrumento chamado sarilho, lava-se ainda a lã com sabão azul e branco para lhe retirar o azeite. Só neste momento está pronta para fazer novelos e ir depois para o tear. A operação de tecelagem pareceu-nos tão complexa que nem uma descrição capaz conseguimos dar. O que é certo é que dali saem peças lindíssimas, reproduzindo padrões tradicionais também encontrados na tecelagem do Norte de África.
Talvez dê para perceber pela extensão do post o entusiasmo que este projecto nos traz. O risco iminente do desaparecimento desta arte é motivação adicional para nos deitarmos ao trabalho. A ver vamos se os apoios e financiamentos necessários chegam. Pela nossa parte, dificilmente poderíamos ter recebido mais tentadora proposta de trabalho.
» O que é nacional é bom
Etiquetas: Cool finds, Cultura popular, O que é nacional é bom, Work in progress
3 Comments:
Olá Isabel e Bárbara:
Acabo de dar uma olhadela ao vosso blogspot e ler os vossos textos sobre as famosas popias de Castro Verde e a Tecelagem de Mértola… é refrescante descobrir o vosso entusiasmo. Estou cheia de vontade de ver essas ideias? Quando acham que nos podem apresentar algumas propostas?
Beijinhos e bom fim-de-semana
gostamos do site
Caro anónimo,
obrigada!
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