Guardiã feroz de todos os possíveis
Foto de Maria Pato e Thomas van Keulen (9 e 7 anos, respectivamente)
Finalmente de novo sou eu, por dentro do território do amor tão lentamente reconquistado. Olho para a nossa família e já não a sinto amputada. Intactos, à nossa volta, os sítios onde fomos felizes. E tudo parece de novo possível: a alegria essencial, as noites de gratidão por estarmos vivos, quando acordamos e tocamos ao de leve quem amamos, numa festejo absoluto da pertença. Recordo o passado para ti, que eras demasiado pequeno para te lembrares, conservo a memória da felicidade, do começo da tua vida, do teu pai, guardiã feroz de todos os possíveis. Nada me podia dar mais prazer do que fazê-lo; é a prenda que te dou em troca do que perdemos. Fui órfã durante demasiado tempo. É altura de celebrar a vida. Ver-te crescer, o milagre repetido a cada dia, amar-te sem restrição, com a consciência da vida como uma finitude, único lugar para cumprirmos a felicidade que em sorte nos coube. Mas não quero escrever mais. Na escrita ficam os traços da tristeza, pelo menos na minha. É lá fora, para lá dos muros do pensamento, no sítio que as emoções habitam, que a vida se encontra inteira. É aí que quero estar, contigo.
Etiquetas: Love and friendship, Nano-storys, Parenting, Writing
2 Comments:
Se posso comentar...
"(...) é uma dor pequeninha,
quase como se não fosse,
é como uma tangerina
tem um sumo agre doce
De onde vem essa dor
se a causa não se vê.
Não esponhas essa dor,
é preciosa, é só tua.
Não a mostres tem pudor
tem o lado oculto da lua.
Não é vicio nem costume,
deve ser inquietação.
Não há nada que a arrume,
dentro do teu coração.
Talvez seja a dor de ser,
só a sente quem a tem,
ou será a dor de ver
a dor de mais alguem.
Certo é ser a dor de quem não se dá por satisfeito.
Não a mates guarda a bem, guarda-a no fundo do peito.(...)"
Desconheço o autor
Beijocas
Cláudia Cirilo
Obrigada Cláudia, é muito belo. Bjns
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