Afinal o que importa não é a literatura
nem a crítica de arte nem a câmara escura
Afinal o que importa não é bem o negócio
nem o ter dinheiro ao lado de ter horas de ócio
Afinal o que importa não é ser novo e galante
- ele há tanta maneira de compor uma estante
Afinal o que importa é não ter medo: fechar os olhos frente ao precipício
e cair verticalmente no vício
Não é verdade rapaz? E amanhã há bola
antes de haver cinema madame blanche e parola
Que afinal o que importa não é haver gente com fome
porque assim como assim ainda há muita gente que come
Que afinal o que importa é não ter medo de chamar o gerente
e dizer muito alto ao pé de muita gente:
Gerente! Este leite está azedo!
Que afinal o que importa é pôr ao alto a gola do peludo
à saída da pastelaria, e lá fora – ah, lá fora! – rir de tudo
No riso admirável de quem sabe e gosta
ter lavados e muitos dentes brancos à mostraMário Cesariny
Nobilíssima Visão (1945-1946), in burlescas, teóricas e sentimentais (1972) Este post fica à espera de imagem. Não conseguimos esperar mais por partilhar este poema tão cesarinyano e tão do nosso agrado que o escrevemos a marcador indelével nos azulejos da casa de banho do atelier ;)
» O que é nacional é bom (celebramos aqui o primeiro "O que é nacional é bom" literário)
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