sexta-feira, novembro 23, 2007

O Guardador da Ilha


Foto retirada do site da Câmara Municipal do Corvo


O Guardador da Ilha

Há homens com quem se pode aprender a ver aquilo que dentro de nós existe e não sabíamos. Reconhecemo-los pelo olhar. Quando se aproximam, a noite reflecte-se clara nos nossos rostos. Têm gestos lentos, precisos, como os dos deuses marinhos que habitaram, além, no mar rente à ilha. Às vezes, quando à hora do calor durmo debaixo duma árvore, aparecem-me em sonhos. Contam que são homens sempre de passagem. Não pertencem a lugar nenhum e raramente pernoitam duas vezes de seguida no mesmo sítio. São homens errantes e muito antigos. Deslocam-se como se fossem sombras. Transportam no coração a euforia de quem viaja. Uma noite conheci um desses homens e toquei-lhe. Veja a queimadura que me deixou nos dedos. Está a ver? Por isso não saio daqui. Guardo e vigio a ilha - como se ela precisasse do meu olhar para se manter um ser vivo. Passo os dias dizendo, em voz alta, os nomes das plantas e dos animais, assim... como se rezasse. E, uma noite, do fundo marinho da ilha virá outro homem, ou um deus, para me ensinar mais coisas sobre estas terras.Vivo nesta charneca que se estende na Cabeça da Cabra até ao mar. Olho fixamente a ilha, mesmo durante a noite, quando ela tem o perfil duma cabeça deitada sobre as águas. Deixo a vida escoar-se ao ritmo das migrações das aves. E ao fim de muitos anos descobri que a ilha é um lugar que cresceu, misteriosamente, dentro de mim. O meu corpo transformou-se em ilha. Olho a ilha, sou a ilha. Mas não te quero demorar mais. Se quiseres, antes de seguires viagem, ensino-te os nomes dos animais. E se me deres a tua mão, queimar-te-ei os dedos, exactamente como queimaram os meus. Depois, poderás partir por essa linha litoral traçada pelo fogo da pele.

In "O Anjo Mudo" de Al Berto (Assírio&Alvim)

A Evatrai Craft Design foi convidada a participar num concurso público para dotar o Centro de Interpretação Ambiental e Cultural do Corvo de equipamento e programa educativo. Andamos a guardar a ilha do Corvo, a ver se também a nós ela nos cresce cá dentro.

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Cramol


O que vamos "ouver"* esta noite. (foto roubada ao site dos Attambur :P)
* Obrigado ao Simão Costa, dos Miso Music, pelo conceito

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quinta-feira, novembro 22, 2007

Extended play

quarta-feira, novembro 21, 2007

Velha infância*


Pierre Pratt

Como tornámos público, há uma (grande) parte de nós que se recusa a abandonar a infância. Aliás, nem sabemos muito bem que coisa seja essa de abandonar a infância. Está claro que pagamos as nossas despesas, gerimos casas, criamos filhos, saímos à noite, tudo coisas que não se faz quando se é criança. Mas tudo isso nos parecem pormenores técnicos, capacidades que a idade, os estudos, a experiência e o tamanho nos trouxeram. Quando procuramos o nosso centro, ele não está longe da vivência infantil. Continuamos a acreditar na plasticidade de um mundo que está mesmo a pedir que brinquemos com ele e a sentir uma curiosidade quase incoveniente por tudo o que nos rodeia. A escolha das nossas profissões não esteve com certeza longe da necessidade de satisfação destes impulsos. Nas próximas vidas, não nos importávamos de ser ilustradoras ou fotógrafas. Quem sabe ainda nesta. Também continuamos a ter uma fé quase ingénua no que a vida tem para nos dar.

P.S. - Se calhar é nos "quases" que nos fica a maturidade

*Roubado aos Tribalistas

Putos de quem gostamos (assim o que nos vem neste momento à cabeça, não desfazendo)
Pierre Pratt (ilustração)
João Vaz de Carvalho (ilustração)
Jorge Colombo (pluridisciplinar)
Adriana Calcanhotto (música)
Jim Henson (animação)
Jacques Prévert (escrita)
Eça de Queiroz (escrita)
Cartier-Bresson (fotografia)
Daniel Blaufuks (fotografia)

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quinta-feira, novembro 15, 2007

En los sueños


Não sabemos de onde vem nem para onde vai, só sabemos que gostamos. Obrigada ao autor desconhecido.

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Coolest from Le Cool


Os nossos amigos do Le Cool (já lhes chamamos assim porque sem eles, realmente, nem sem o que seria dos nossos programas extra-curriculares :D) trazem-nos todas as semanas deliciosas propostas para encher as horas livres. Esta semana chamou-nos a atenção a Casa dos Dias d'Água, que começa por ter um nome à altura de uma copywriter e tem sempre propostas interessantes, provocantes e - muito importante - bastas vezes gratuitas. Só esta semana (de quinta a quinta), Teatro Nacional*, começa hoje e fica até 2 de Dezembro, com entrada livre e Filmes no Lençol (digam-me lá se não é uma maravilha?), 16 e 17 às 23.00, com projecções de Raquel Freire e João Ferreira, respectivamente.
* “Há um mapa de Lisboa com os lugares onde trabalhámos e ensaiámos os nossos espectáculos. Alguns desses lugares já não existem, outros nunca existiram, não existiam já quando nós lá estávamos.” Companhia Sensurround
Nota: Teatro Nacional já vimos, era uma instalação que nos chamou a atenção há uns meses à beira-rio, e a nossa crítica é que a intenção, a ideia, o conceito e o título são excelentes mas o espectáculo precisava de sub-títulos para ser compreendido :P. O facto de pôr em causa a nossa forma habitual de ver um espectáculo não tem mal nenhum, era desconcertante, algo mais para se ir vendo do que para ser visto...

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